domingo, 30 de março de 2008

Insensível ou maluca?

- Não me lembro de nada. Isso aconteceu mesmo?
- Como assim? Foi tão profundo, tão sério, como você não se lembra?
- Mas você tem certeza de que aconteceu?
- Por acaso eu sou de brincar com assuntos sérios como esses?
- Pra dizer a verdade, mesmo que você se ofenda, eu não me lembro. E pode até ter acontecido, mas se eu não me lembro não foi importante para mim, portanto não é sério.
- Você é insensível ou maluca?


DECISÃO FATAL:
Vou pensar se sou insensível ou maluca. Quando chegar a alguma conclusão eu escrevo outro post, contando aos poucos interessados.

sábado, 29 de março de 2008

Ô palhaço

- Você está mais calma, não é? Tenho percebido!
- Sim, estou.
- , parece triste por admitir.
- Não é tristeza. Mais calma fico mais cansada, as palavras saem com menos fluência e isso me dá medo. Quero fluência, quero falar.
- Calma, as coisas se ajeitam. Você encontra o equilíbrio.
- Será?
- Eu acho que sim! Te desejo sorte, vais precisar.

DECISÃO FATAL:
Fui à uma escola de circo que tem aqui numa esquina da cidade que moro e ainda não descobri qual é. Apesar da calma, ainda ando perdida e não sei onde moro. Mas consegui chegar lá. Um rapaz bonito me atendeu, vestido de palhaço. Eu disse que queria aulas de malabarismo. Ele me perguntou se eu queria trabalhar em circo ou fazer malabares em festas. Ri. Disse que não,não sou mais de festas assim, externas.
- Ô palhaço, quero aulas de malabarismo para achar o equilíbrio.
Não sei que dias eu vou, nem sei mais onde é a escola. Mas estou quase descobrindo em que cidade estou, o que é um bom sinal, não é?

quinta-feira, 27 de março de 2008

Fui pra vida, volto quando der

- Corre, levanta, tá quase na hora do seu compromisso!
- Não aguento, tão cansada e nem sei por que.
- Ânimo, você tem mil coisas pra fazer, um monte de coisas pra acontecer.
- muito cansada mesmo.Meus braços, minhas pernas, parece que corri uma maratona.
- Mas você nem saiu de casa.
- Também não estou entendendo esse cansaço. Não consigo nem pensar.
- Isso ta me cheirando à preguiça. Levanta e vai pra vida.


DECISÃO FATAL:
Levantei e fui para vida. Fui ao banheiro, escovei os dentes, fechei a janela do quarto, pus uma camiseta velha e confortável, um par de meias para meus pés sempre frios, peguei um livro que não quero ler, só para ver as letras passarem e fui pra vida, dormi! Aqui também, dormi. Ando dormindo nos meus blogs.

quarta-feira, 26 de março de 2008

TUDO AO MESMO TEMPO, NÃO AGORA

Acordei e me dei conta de que não conheço todo mundo. Tem gente por aí que tem tudo a ver comigo e eu não conheço. Fui para o banheiro, me olhei no espelho e me dei conta de que mal me conheço. Que em alguns lugares escrevo bem, noutros, só vontades. Aqui, por exemplo. Piorou: quando mais gente eu conhecer mais vou saber de mim. Me olhando bem, uma boca que não via há tempos, fiquei nervosa, deu vontade de voltar à cama e acabar o dia antes de começar. As indecisões podem ficar para amanhã, as batalhas para depois de amanhã e as frustrações para o final de semana. Mas não dá ? Embaixo do edredon o bicho pega.

Indecisão fatal:
Fui à rodoviária, sim sou uma pobre jornalista, aeroporto não rola, e comprei várias passagens, uma para cada lugar. Agora estou indecisa para onde vou! Mas será que terei tempo de ir? Será que chego até sexta? E quarta que vem, dará tudo certo? E em seis meses, a coisa vai estar acontecendo?

terça-feira, 25 de março de 2008

Eu te amo de novo

- Eu queria dizer um outro eu te amo. Um amor com mais certeza
SEM RESPOSTA
- Eu queria dizer que te amo para sempre, apesar da dor que te causo.
SEM RESPOSTA
- Eu queria dizer que salvastes a minha vida várias vezes e que se não fosse você, não seria eu.
SEM RESPOSTA
- Eu queria dizer que nada do que eu conseguir, quero viver, se não tiver você por perto.
SEM RESPOSTA
- Eu queria te dizer que você é linda, especial! Queria te dizer que te admiro um monte e que quero, quando crescer, ser um pedacinho da força que você é.
SEM RESPOSTA

DECISÃO FATAL
Corro para a sala. E grito: Manhê, vem ler o meu meu blog. O novo tá?
Já vou, sabe cadê meu óculos, Pi?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Eu te amo

- Só queria dizer que te amo!
-Só?
- Sim.
- Tá dito. Que queres agora?
- Dizer novamente que te amo. E dizer sempre.
- Mais nada? cansanda dessa mesma frase, dita assim, tão blasé.
- Quero ainda mais uma vez dizer-te isso: te amo!
- OK.



DECISÃO FATAL:
Ela mais uma vez, blasé mais uma vez, one more time blasé, olha-se ao espelho e diz: I love, Jeaime, Ich liebe dich, Yo te amo, Io te voglio benne. Faz pose de boxer e pummmm, chuta o espelho com uma perna só, que se quebra em vários imensos múltiplos bipolares pedaços. Ela diz:
Happy now?

sábado, 22 de março de 2008

Em casa

- Mas você quer ficar em casa novo? Há dias que não saímos.
- Eu sei. Mas estou cansada, cheguei de viagem.
- Vamos pegar uma piscina ou um cinema vai!
- Não quero sair de casa. Quero ficar aqui, de pijama, no sofá, vivendo a vida dos sitcoms. Deixe-me em paz.
- Vou sair sozinho.
- Saia. Eu fico, hoje, sempre. Ficarei para sempre em casa. Nunca mais sairei de casa
- Fui.


DECISÕES FATAIS
Ele sai sozinho e não volta. Ela se tranca em casa para sempre. Sempre. Vinte anos depois, quando sai de casa, encontra com ele comprando cigarro num bar da esquina. Desses bares que os homens vão e não voltam nunca mais. Ele pergunta:
-Quer pegar um cinema.
- Agora que já saí de casa mesmo. Mas vamos pegar uma piscina.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Voltando

Estava voltando atrasada. Como sempre, tudo atrasado. Ônibus, eu, minhas contas, meus afazeres, quem me espera, que não me espera. Tudo atrasado. Um calor de lascar e o ar condicionado não funcionava. Não queria chegar em casa. Não queria chegar a lugar algum. Queria parar de conjugar qualquer verbo. Queria ser uma anti-conjugação.
Ônibus lotado e eu perdendo o fôlego. Ainda três horas de viagem e eu não aguentaria.Os bancos, todos muito perto uns dos outros, as pessoas falando, crianças comendo Cheetos. Não dava.
DECISÃO FATAL:
- Motorista, pára que eu quero descer.
- Mas moça, estamos passando por uma cidade ainda longe do destino, muito longe.
- Sem destino seu motorista, sem destino. Não quero nem pegar minha mala
O ônibus parou, desci e andei uns dois quilometros e entrei num bar de beira de estrada.
- Um pastel e uma coca, por favor!

quarta-feira, 19 de março de 2008

Indo

- O senhor já viu como ela se comporta?
- Já sim, e não vejo nada de mais nisso.
- Mas o senhor tem certeza de que ela pode mesmo ficar aqui?
- Sim, para mim o comportamento dela é perfeitamente adequado ao local.
- Tem certeza de que ela não deve ser liberada?
- Tenho, mas vamos perguntar a ela.

- Você está feliz aqui, quer mesmo continuar?
- Sim, estou sim.
- Se quiser ir embora, está livre pra fazê-lo, é só dizer que mandamos o motorista te levar.
- Não, vou ficar mais um tempo.
- Ok.

DECISÃO FATAL:
Ela se despe. Nua corre pelo jardim e pula o portão. O caminho é longo e ela vai nua. Quando chega no posto de gasolina, pega o telefone e liga para o senhor e diz:
- Enganei um bobo, na casca do ovo.... E estou nuaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

terça-feira, 18 de março de 2008

X MAN


- Mas com essa inflamação você lavou a cabeça, minha filha.
- Mas doutor, eu vim fazer uma consulta e não levar uma bronca.
- Sim, mas chegou aqui com a cabeça molhada, e está com uma baita otite, uma gripe que te derrubou e lavou a cabeça.
- Sim, doutor, o senhor me desculpe por ter lavado a cabeça. Mas eu quis vir arrumada a cheirosa.
- Eu sou seu médico e não seu namorado.
- Ta bom doutor, já pedi desculpas. E agora, o que o senhor vai me receitar?
-Antibiótico e cama. Muita cama. Mais nada. E veja se da próxima vez cuide-se melhor.
Passei na farmácia, comprei o antibiótico com desconto, mas sem se genérico, não gosto de genérico. Fui para casa, arrasada, mas meu cabelo já estava seco. Separei uns bons livros, tomei o remédio e cama. Como o doutor disse.


DECISÃO FATAL:
- Alô, XMAN , é você?
-Sim, quem é?
- Camilla. É o seguinte, eu acabei de sair do médico e ele me receitou cama, muita cama. Será que você não pode vir pra cá?
-Sim, em alguns minutinho estarei ai. Fui ao médico e ele me receitou a mesma coisa. Podemos nos divertir.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Voadora


Eu costumava voar. Abria as asas, mirava o destino e saía destemida, voando, sem medo das caras surpresas. Voava assim, simplesmente como quem voa. Deitava à noite na cama e decidia que queria voar. Punha os braços à frente e o vôo começava. Ninguém me disse que não poderia mais voar. Ninguém me contou que na verdade não tenho asas. Foi assim como comecei, parei. Uma noite deitada na cama, à meia luz, tentei voar. E caí de bunda no chão. Não lamento o talento perdido. Talvez tenham sido erros aerodinâmicos os vôos que fiz. E em algum ponto do universo, agora os botões foram ajustados e nada mais justo do que eu não poder mais voar.

Aceito. Agora vivo com os pés no chão o dia todo. Quando deito à meia luz e me entedio já sei que não posso voar. E não me venha com essa de vôos internos. Não! Bons são os vôos de verdade. Um dia te conto o que já vi lá de cima. Por enquanto vou ficando aqui embaixo sem decolagem, vôo ou pouso. Fico no chão, na terra, com pés cambaleantes e não firmes. Afinal, apesar de não poder mais voar, sou uma voadora.





DECISÃO FATAL:

Se a internet funcionar, talvez eu pegue o meu cartão de crédito imaginário e compre uma passagem pelo cheapflights para voar com asas alheias.

domingo, 16 de março de 2008

Estréia

Entro aqui nesse lugar escondidinho, de letras apertadas, pequenas, linhas bem juntinhas. Abro só um pedacinho da porta, passo de mansinho e sento no cantinho. A luz acende, mas ninguém me vê. Estou pequenina. Abraço as pernas para não ocupar espaço. Penso que quando crescer quero ser mais versátil, escrever letras diferentes. Olho para o meio das minhas pernas, para o escuro que elas fazem. Assim meu olhar não ocupa espaço. Olho pouco para o redor. Respiro mansinho, assim poupo ar e me imagino planta. Se eu tentar falar, minha voz não sai. Medo de fazer barulho. Penso num vaso caindo e me arrepio, abraço ainda mais minhas pernas e meu pescoço retesa, minhas mãos apertam os dedos, meus pés estão para dentro. Sou quase assim, um caracol. Estou escondida. DO NOT DISTURB, SO I WONT EITHER.

DECISÃO FATAL:

Me levanto, abro bem meus braços e pernas. Respiro fundo umas quatro ou cinco vezes, escancaro a porta. Grito. Jogo os sapatos longe e chuto o vaso, que cai no chão e quebra, sem arrepiar. Abro os poros e deixo entrar. DISTURB