Texto: Rainer Maria Rilke
Livro: Os cadernos de Malte Lauids Brigge
Foto: Ukitakumuki - Deviantart
foto: Deviantart- Bingevil
Tá bom, gosto de bolo de abacaxi, dias chuvosos, cabelos compridos, homens inteligentes, mar, areia, animais, um bom vinho, a música certa, o abat jour aceso, um amigo por perto, um outro ao longe, uma certa dose de sedativo quando necessário, um belo e longo livro, sapatos roxos, bolsas vermelhas, quase nenhuma maquiagem. Amo jeans, camiseta Hering, um bom papo, uma noite longa, boas gargalhadas. Faço fumaça as vezes, mas só às vezes. Gosto de quem gosta de mim e também de quem não gosta. Sou louca pelos meus avós, apaixonada pelo meu sobrinho e meus irmãos às vezes são meu orgulho. Adoro dormir tarde e não ter hora para acordar, fico feliz ao ouvir algo sincero, mesmo que pesado, sorrio à honestidade, mesmo que dirigida a mim. Adoro perfume europeu, adoro pesto italiano, queijo francês, yougurte inglês, pashmina indiana, cerveja holandesa, MP3 japonês.
Odeio celular, mentira, despertador, pink, sorrisos à toa, palavras agradáveis na hora errada. Não suporto carne de porco, pouco gosto de carne. Odeio encontrar pessoas todos os dias no elevador, odeio ser obrigada à... Não reajo bem à despedidas e a dor. Lido muito mal com finais. Mas queria que minha vida se transformasse agora no final da séria Sex and the City.. e todos vocês podem rir de mim. Eu queria achar o Big em Paris e usar todos aqueles vestidos. Assim seria mais fácil. Nem que fosse por um capítulo.
"Você fez muito mal ", ele me disse, com uma expressão de diretor de escola. Eu pensei bem, sentada no canto que estava, e achei mesmo que tinha feito muito mal. Mas há quanto tempo venho fazendo mal? No meio de tudo isso, de tentar fazer bem, de sempre me dar conta de que não consegui, acabei me perdendo. Me perdi nas minhas palavras, me perdi nas palavras dos outros e ando pensando em cancelar espaços para não ocupar com o que não vale a pena.
"Mas não foi tão mal assim", ele disse, agora com cara de bedel.
Não interessa mais o que dizem. Vou acender um incenso e pensar no bem e mal que fiz, para pode agir melhor daqui pra frente. Vocês andam percebendo que esse blog anda perdendo o sentido? Estou pensando em cancelá-lo e manter só o esse papo. O que acham??
- O medo não era infundado, era?
- Puxa, pior que não. Me dei mal. Erraram mesmo a mão e quase passei dessa pra uma melhor.
- Mas você pressentiu isso?
- Na verdade sempre considero as possibilidades, diria. Pressentir não! Mas aquele dia eu considerei essa possibilidade e estava certa.
- Por isso sumiu assim,por tanto tempo?
- Sim, e não posso dizer que estou inteiramente de volta. Ainda estou um pouco debilitada e na verdade, meio sem coragem de recomeçar. Fraca, fraca, afinal quase cruzei a barreira do conhecido.
- Imagino. Mas estás bem?
- Sim, o baque foi grande, mais eu sou forte e estou bem sim, melhorando todo dia.
- Algum medo novo?
- Para ser honesta vários. Quanto mais me aproximo deles, mais medo tenho. Mas o mais novo medo é o de DECISÕES FATAIS por enquanto.
- A-ha, essa é boa. É disso que seu blog é feito.
- Não agora. Por isso estou quietinha. Nada fatal. Amo muita gente fora daqui e aqui pra atitudes fatais. Sem fatalidades caros amigos, não me esqueçam.
- Você está com medo?
- Ô! Varada de medo!
- Mas você acha que pode acontecer algo de ruim?
- Lógico que sim, sempre pode.
- Mas o que por exemplo?
- Ué, algo dar errado, ele errar a mão e eu passar dessa pra uma que nem conheço.
- É, agora fiquei com medo também!
DECISÃO FATAL:
Sentir medo. Mas me lembrei que um dia desses ao dar uma boa notícia minha à um grande amigo, ele ficou muito feliz e me disse:
- Camilla, as coisas acontecem. Não se esqueça disso. As coisas sempre acontecem, a gente querendo ou não!
Pois é, aceitando a lógica da vida, e disse aceitando e não entendendo, o negócio é mesmo lidar com o medo como um amigo que me protege. Porque se as coisas boas acontecem, as ruins também podem acontecer e não há muito o que fazer sobre isso. Mas não fiquem com medo. Pelo que ouvi dizer acontecem mais coisas boas do que ruins. Será verdade ou mentira da fé?