quarta-feira, 30 de setembro de 2009



Se vejo tudo mal e não sei se estou vendo mal porque está mesmo mal. Me embaralho com a linha do horizonte que pode nem fazer sentido se a terra não for redonda. Mas as horas passam e com elas a dor de ser aumenta e não tem conversa de médico que mude que a dor aumenta e me faz perder as vírgulas e os pontos. A pontuação que antes me balizava, hoje me é esquecida. Sou esquecida por elas também. Coloquei-me num limbo vivo, coisa de gente que dói para fora de si. Doer fora de si mesmo. Mas não, não só fora, é dentro também. Continuei dizendo a ele que as coisas não faziam sentido, os bilhetes recebidos não diziam nada que me ajudasse. Ele disse que deveríamos continuar trabalhando bastante e eu penso se quanto mais melhor e concluo que não e me envolvo com uma opera que toca não sei onde, mas parece que é para mim, ela cresce, diminuiu, cresce , diminui e eu também. Penso na minha avó que está doente e penso que agora tenho twitter, tudo isso para me distrair da hora em que vivo. Tudo para me distrair. Penso em firmar contratos com as pessoas. Me comprometer as coisas e que elas se comprometam também, ai concluo que é tudo besteira, não quero nada de ninguém e duvido que alguém queira algo assim sério de mim. Preciso estar perto da minha cama para se escurecer, eu deitar. É assim, nada mais pode me pegar desprevenida. Mas talvez amanhã eu escape, talvez não. Talvez eu tenha força, talvez não.


Falam para mim de tempo. Tempo perdido. E fico com uma dó. Dó de mim mesma. Será verdade que ando perdendo tempo? Será que o tempo não anda se perdendo de mim? Um correndo para o outro em direções contrárias. Será isso possível? Me perguntam se espero por uma luz. Mas cacete, lógico que espero. Se não, de que tudo serviria? Que venha a luz. Venha a luz.




Image by =utopic-man

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O meu telefone não toca




Outro: E ai, tudo bem?
Eu: tudo indo e você?
Outro:Tudo bem também. Como vão as coisas?
Eu: Ah, mais ou menos do mesmo jeito.
Outro: É, as coisas são difíceis mesmo. Tudo tem seus atropelos.
Eu: Pois é.
Outro: Vamos nos ver.
Eu: Vamos sim.
Eu te ligo.
Eu: Ok. Um beijo.




Outro: E ai, melhorou?
Eu: Mais ou menos.
Outro: Tem que reagir menina. As coisas não são fáceis mesmo. Mas tudo depende de você reagir.
Eu: Sei, tenho reagido, mas é que está muito difícil mesmo.
Outro: Eu sei. Olha, se precisar de mim para alguma coisa sabe que estou aqui né?
Eu:Ah, sim. Obrigado.
Outro: Vamos nos ver.
Eu:Vamos sim.
Outro: Eu te ligo.
Eu:Ok. Um beijo


Outro: E ai, saiu dessa merda ou ainda está enterrada na cama?
Eu: ai,cara, ta tão difícil.
Outro: Você tem que tomar uma atitude.
Eu: O problema é que não sei por onde começar e pra que lado ir.
Outro: Sabe sim, no fundo do seu coração você sabe.
Eu: Mas estou cavando lá no fundo e nada aparece.
Outro: Então dá tempo ao tempo que alguma coisa boa acontece.
Eu: Ta.
Outro: Vamos nos ver.
Eu: Vamos sim.
Outro: Eu te ligo.
Eu: Ok. Um beijo



Outro: Oi querida tudo bem? Quanto tempo! Tenho tentado falar com você e não consigo.
Eu: É que ando meio desligada do mundo.
Outro: Mas o que aconteceu?
Eu: Nada não. Só ando triste.
Outro: Mas não pode, tem que reagir, você sabe que no final dá tudo certo, não sabe?
EU: Sei?
Outro: Sabe sim. Eu sei que é só uma fase e que no final vai dar tudo certo.
Eu: Ta bom.
Outro: Precisamos nos ver.
Eu: Vamos sim.
Outro: Eu te ligo.
Eu: OK. Um beijo.


Outro: Oi queridona, liguei pra te contar que deu tudo certo na viagem.
Eu: Que bom. Tava torcendo por você.
Outro: Pois é, foi tudo ótimo. E você, como está?
Eu: To indo. Tentando melhorar.
Outro: Ótimo, é assim que se faz. Tem que reagir.
Eu: Sim.
Outro: Quando vem pra cá?
Eu: Logo.
Outro: Cuidado, que a vida passa e o logo é logo mesmo.
Eu: Ta bom.
Outro: Nos vemos. Um beijo.

Meu telefone não toca.

Image: a phone... by ~Gazo

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E a coisa de matar continua






Ela fugia de mim na rua. E eu correndo atrás, desesperada. Estava perdendo minha personagem. A coisa está escassa, não posso perder mais essa. Mas dessa vez peguei uma atleta, que me fez lembrar como fumo. Ela pegou uma avenida movimentada e qualquer ação aqui é perigosa. Corre feito Lola e eu corro feito louca perdendo o fôlego, mas sem desistir. Ela entra no ônibus olha para trás e não me vê. Sento bem atrás dela. E nada de tiros em ônibus. Encosto minha boca no ouvido dela e digo “ agora é sua hora”. A moça morreu de enfarto no mesmo instante. Vai ver não era tão atleta assim.

Nos víamos todas as noite no mesmo café bar perto de casa. Ele já chegou a sorrir para mim. Mas seus ternos parecem muito antigos, daqueles com couro no cotovelo. Fico imaginando que ele cheira a naftalina. Ele sempre carrega um livro embaixo do braço e eu carrego tudo o que encontrei naquele dia. Minha arma sempre comigo. Me intriga o fato de ele carregar um livro só. Ele não fuma, não tem celular e seu sorriso é míope. É preciso por um final nisso. Vou ao banheiro, capricho no batom vermelho e o chamo com os olhos,ele entra no meu carro. Dirijo para longe com poucas palavras com o homem antigo que fala muito. Um tiro na nuca. E mais nada.


Essa mulher já viveu boas histórias, ouvi dizer. Tem coisas para contar. Usa vestido que ela mesmo costura. Sua casa tem canteiros e jardim. Seu cabelo é arrumado todos os dias por ela mesma. Ela sorri a quem passa. Ela rega as plantas. Ela rega as plantas. Ela rega as plantas. E quando me dá as costas, toda a água cai num vaso só, e ela em cima.

E assim, como há um tempo, venho matando. E sem medo de confessar aqui os meus crimes. Mas a coisa esta ficando difícil para mim, os personagens tem poucas chances de viver histórias. A coisa está um crime.



Image: run by ~dkraner