quarta-feira, 28 de outubro de 2009


Se as doze batidas da meia noite conseguem me alertar de que a vida está passando... eu acendo mais um cigarro e encho meu copo de café. Talvez deixasse cair uma lágrima, em homenagem àquilo que não consegui ainda fazer. Sim, a todos os homens que ainda não beijei, a todas as vodcas que ainda não tomei, a todas as drogas que ainda não experimentei, a todas as músicas que ainda não ouvi e todos os livros que ainda não li.
Essa coisa da vida passando tem sido assunto recorrente para mim. Como se antes ele não estivesse a agora com uma voracidade de animal de grande porte. Olho o relógio e ele grita: a vida está passando, a vida está passando, a vida está passando.
Acredito que só amadureci depois do meu primeiro arrependimento. Arrepender-se é dolorido. Amadureci sim, mas poderia ter passado sem essa.
Continuo brincado de ciranda e falando “ te quero com três palavras” e não “eu te amo”. Sou assim, menina desaprendida. Desprendida. Semanas pinto as unhas de preto, semanas de branco. Semanas escrevo bem, semanas mal. Semanas não escrevo. E a vida passando.
Preciso de um espaço físico que não encontro e vou me encolhendo numa situação que me angustia. Como se os deuses estivessem olhando para mim e dizendo: o tempo está passando.


Image: Time is always passing by by ~Deereyedgirl

quarta-feira, 7 de outubro de 2009




Sentei na cadeira e minha cabeça roda. Roda. Roda viva de cabeça morta. Passo forte de pernas bambas. E eu sempre escrevo pernas bambas. Devo ter labirintite. Meu espelho ta quebrado. Eu mesma quebrei, com os pés. Sempre escrevo espelhos quebrados. Devo estar mal das vistas. Vomitei a comida. E sempre vomito palavras. Fiquei com nojo do que saiu de mim. Sempre sinto nojo. Devo estar sofrendo de frescura. Desliguei o telefone para não atender. E sempre escrevo telefone desligado. Devo ser uma sociopata. Vejo pássaros e tenho raiva de não voar. Sempre escrevo raiva, devo ter sido mordida por um cachorro. Torci a mão, esfreguei os olhos, espreguicei a coluna e comecei a chorar. O choro veio como bola de sinuca bem tacada. Preta. Sempre escrevo preto. Devo ser daltônica. E chorei a vida toda. Sempre escrevo chorando a vida, devo ter vivido mal. Chorei até o amanhã, e nunca escrevo amanhã. Pensei um lago cheio de peixes e fiquei com medo de cair. Sempre sonho que estou caindo e sonho que estou escrevendo. Eu sempre sonho e sempre caio. Me debati, e isso é raro. Quis me punir, isso é sempre. Que fiz? Por que não fiz? Chegou uma carta, era aviso de uma morte. Eu joguei fora e tomei cuidado para que as lágrimas não fossem por isso.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pouco amor não é amor


Parei no final da escada. Dali dava para ver a platarforma. Não tinha certeza de que ele viria. Acabei a escada e comecei a caminhar por toda a plataforma. As pessoas chegaram e tomaram seu rumo e por alguns segundos, antes do próximo trem, estava tudo deserto. E foi naqueles poucos segundos que vi nossa vida passar bem diante dos meus olhos. Sim, ele não estaria na plataforma. Agora era certeza, nem nessa, nem em nenhuma outra. Ele não estava nesse trem e não estaria em nenhum outro também. Não! E lhe dou razão. Na verdade é minha obrigação estar ali esperando. E só.
No caminho de volta para casa, comprei duas garrafas de vinho para tomar sozinha. Coisa que só faço quando estou muito triste. Estava um frio cruel e o vinho ia me ajudar a descongelar as idéias e metabolizar a espera inútil pela qual tinha passado.
Cheguei em casa, Rob, que divide a casa comigo estava sentado na cozinha. Ofereci o vinho, mas ele percebeu que eu estava precisando beber sozinha. E assim abri a primeira garrafa. Abrir garrafa de vinho tem algo de mágico. Sinto sempre que algumas verdades serão libertadas com a rolha que receia sair. E assim sempre o é. Sentei no sofá, de meia e com o vinho na mão.
Ele não veio e não virá. Mas isso não tem mais importância. Desde o primeiro dia eu sabia que o estava afastando. Estava rejeitando todo e qualquer tipo de amor que ele tinha para me dar. Um dia ele entendeu isso e desistiu. Viu como é simples?
Na segunda taça de vinho lembrei de nossas viagens juntos. Como dei pouco valor para as coisas, como fui tola. Poucas fotos, isso diz tudo.
Na terceira taça: noites e noites a fio que passamos juntos, lendo, conversando, bebendo e fazendo amor. Pouco amor não é amor, já disse Nelson Rodrigues. A verdade é que não era pouco amor.
Pouco amor não é amor. Pouco amor não é amor. E essa frase ficou martelando minha cabeça. Vinho. Vinho. Pouco amor não é amor. Ele te deixou esperando na plataforma e pouco amor não á amor. Ele nem ligou e pouco amor não é amor. Ele não volta mais e pouco amor não é amor. Você acha que sofre e pouco amor não é amor.
Segunda garrafa de vinho. Pouco amor não é amor e eu pouco deixava ele me tocar. Fui rígida o tempo todo. Tantas partes do meu corpo inexploradas por aquele que eu dizia amar. Pouco amor não é amor.
Lembrei de quando alugamos o primeiro apartamento. Voltamos bêbados para casa uma noite e mal podíamos acreditar que aquela era nossa casa. Tanta alegria. Pouco amor não é amor, mas aquela noite foi muito amor. O primeiro apartamento ninguém esquece.
Ele sempre foi tão doce e eu sempre tão amarga. Cheia das letras, revistas, jornais, amigos iguais. Cheia das massas, vinhos e queijos. E se ele gostasse de lingüiça frita e cerveja e poucos amigos,seríamos diferentes? Não sei mais. O fato é que hoje estive na estação e ele não estava lá. Pouco amor não deve mesmo ser amor.

domingo, 4 de outubro de 2009

Feriado Nacional




Todos unidos no trafego para a praia



Todos sem dinheiro


Todos com muita cerveja


Biquíni novo na Riachuelo


Pneu que fura


Chega na praia


Churrasco e queimadura do sol


Crianças demais


Sol e chuva


Quem se importa?


Tudo é muito bom


Feriado nacional no Brasil Brasil Brasil, só no Brasil


Salve salve






image:

beach by ~kumiwi

quinta-feira, 1 de outubro de 2009



As duas subiam a escada do prédio, voltavam da escola. Fofocavam, como fazem meninas da idade delas. Bolsas iguais, sapatos legais e cabelos bem longos para que no final de semana parecem mais velhas. Falavam de uma “P” que tinha passado o intervalo com um fulano.


Estavam indignadas. E eu na frente, ouvindo e esperando o elevador que demorava. Queria que demorasse mais, assim a história cresceria. Mas elas olharam para minha cara de interesse e pararam. Desci primeiro com a história na cabeça. E foi assim. As duas chegaram em casa e quem encontraram? A “P”, que transava com o pai de uma das meninas. Coisa de louco. A menina caiu aos prantos e a amiga não sabia se ria da situação ou se solidarizava com a amiga. Como a “P” tinha tido tempo de sair e chegar antes dela. A “P” se arrumou correndo e foi embora. O pai, no mínimo constrangido implorou para a filha não contar nada a mãe. Mas será? Será que ela vai conseguir guardar um segredo desses? Eu não conseguiria. O fato é que a outra amiguinha foi embora também e ficou só pai e filha no apartamento. Recomposto, o pai implorava a menina.


- Foi uma besteira que o papai fez, pelo amor de deus não vai estragar nosso casamento por causa disso.


- Besteira pai? Você transou com uma amiga da minha escola. Ela tem a minha idade. Isso é bem mais que besteira.


_ Eu sei, o que eu fiz foi imperdoável, mas pelo amor de deus, sua mãe deve estar para chegar, não diga nada. Promete? Eu faço o que você quiser.


Diante disso a menina ficou pensativa. Foi pro quarto e bateu a porta sem responder.


Pais são assim mesmo, prometem tudo. São capazes de dar coisas materiais, de se tornarem verdadeiros escravos para guardar um segredo.


No quarto, ainda chorando, a menina pensou que se contasse para mãe, iria mesmo acabar com o casamento deles. Não queria isso. Mas a coisa também não podia passar em branco. Ela podia tirar proveito disso sem acabar com o casamento dos pais.


Mulheres, especialmente meninas podem ser maquiavélicas quando querem . Tem lá um dom guardadinho, uma coisa meio”Engraçadinha”. Toda mulher é rodrigueana ou ele é que as catalogou direitinho.


Hora do almoço, a mãe avisa que está na mesa. Todos sentam. Pai, mãe, ela e irmão de 8 anos. Todos sorriem, inclusive ela.


_ Papai, que horas você chega do trabalho hoje?
- Por que o interesse filha? Você nunca quis saber disso.


_Pois é mamãe, mas estava pensando se hoje não poderíamos sair todos juntos para jantar.


Terminou a frase e olhou o pai, com um sorriso malicioso no rosto.


- Hoje não dá filha. Vou receber uns clientes de uma outra usina, pode ser amanha?.


- Não, tem que ser hoje.


A mãe fez uma cara de espanto. Não entendia o que estava acontecendo com o a filha.


_ Tudo bem filha, eu desmarco com eles, pode marcar onde quer jantar.


A filha riu, satisfeita.


A mãe não entendeu, mas tinha tanta coisa para pensar. Se vão jantar fora, que ótimo.


A menina passara tarde fazendo uma lista do que precisava comprar para seu novo guarda-roupas. Iria pedir tudo ao pai assim que tivesse um momento sozinha com ele.


A noite foram jantar,. O pai falava pouco, apenas sorria em resposta a filha que olhava para ele com uma malícia,que ele desconhecia nela.A mãe parecia nadar no mar da ignorância da felicidade familiar. O menino curtia jantar fora dia de semana.


Quando chegaram em casa, a menina chamou o pai no quarto, beijo-o no rosto, e para isso teve que erguer os pezinhos, agradeceu o jantar. Ele ficou satisfeito por alguns segundos. Logo ela disse:


- Preciso de um cartão de crédito sem limites, meu guarda roupas está um lixo, como pode ver. Disse escancarando o guarda roupas....


_ Como assim, sem limites?


_ Isso mesmo que você ouviu papai, sem limites.


O homem baixou a cabeça e foi para o quarto, onde tomou um remédio para dormir e capotou.


Ela deitou-se na sua cama deliciando-se com tudo que compraria com o novo cartão. Chamaria até a “P” para fazer compras com ela. Sentia-se poderosa a menina. Sentia-se mulher. Vai ver e diferença entre uma menina e uma mulher é a sensação de poder.


No dia seguinte corria tudo normal. Menina foi para escola, pai para o trabalho. Na hora do intervalo, menina interpela “P”.


_ Você quer transar com meu pai de novo?


- Fala baixo, ta doida?


- Ué, doida por que? Você já transou com ele. É bom? Quer transar de novo.


Aqui não sei se algum psicanalista diria que a menina morria de inveja de “P” ter transado com o pai e ela não. Mas o fato é que ela incentivava “P”.


_ Quero vai! , responde P, meio sem saber o que fazer.


Menina liga no celular do pai.


_ Pai, vem para escola agora, a P quer transar com você.


- Você está louca, essa história tem que parar. Eu estou trabalhando, não quero transar com essa menina. Pára com isso e vai estudar.


- Você escolhe, ou vem ou conto tudo para a mamãe.


O pai entrou em desespero. Não podia ser refém da filha dessa maneira. Agora além do cartão sem limites, teria que transar com a menina quando a filha quisesse. Isso já era doentio.


- Escuta, faça o que quiser. Eu não vou.


- A menina fechou o celular com um sorriso no rosto. Em alguns minutos ligou para a mãe. Contou toda a história, em detalhes.


Assim,satisfeita da brincadeira ter acabado, esperava chegar em casa e presenciar uma briga de divórcio com vasos voando e tudo mais.


Quando todos chegaram em casa, uma surpresa. A mãe havia se enforcado no banheiro de casal.


O pai horrorizado tapava os olhos do filho e olhava para a menina com expressão de ódio. E ela.


_ Não disse? Eu te avisei que contaria tudo.





Image:girlie by ~ArtemisDragon