quinta-feira, 11 de março de 2010


Talvez eu devesse me submeter a um rito de passagem. Desses onde se pinta a cara, ou onde se entoa hinos pelada ou coisa assim. Sim, uma marca que me garanta que estou entrando para uma nova existência. E aí chamaria Maria para me acompanhar. Ela viria descalço, assim como veio João quando o chamei. Ela estaria sorrindo e me daria as mãos calejadas me jurando que daqui para frente as viagens seriam mais alegres. Mas eu teria coisas a dizer a ela, não sei fazer viagens alegres, elas ficam sem graça. Maria me pegaria pelas mãos e me levaria ao lugar mais distante da cidade, diria que o rito de passagem faria ela mesma.
E ela me contaria de mim, das minhas coisas e das minhas dores. Maria seria abençoada com uma luz que só Maria, moradora de Cuiabá, teria. Ela me diria que o que vai rápido deveria ir mais devagar e o que vai devagar, deveria ir mais devagar ainda. Maria sábia, moça vivida, terra batida.
Falaria a ela que me falta luz, me faltam palavras que se bastem em uma. Talvez ela me dissesse para ter calma que as palavras vão voltar assim como muita coisa voltou. Diria a ela que quero sair do meu corpo e assim fazer meu rito de passagem. E ela me ajudaria. Eu sairia e fugiria para nunca mais ver Maria.