terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sensual


Ela estava na duvida se morava em Piratininga ou Amsterdam. Se teria um filho ou não! Se comprava um carro popular ou um buguie. Se pintava a unha de preto ou francesinha. Omelete ou espaguete?
Sair e beber parecia a melhor opção. Sempre parecia. Bastava estar disposta a se abrir toda. Sim, sempre conhecia homens. Era inevitável. Sabia que quando saísse para beber, com os olhos certos, e o sorriso de lado, um homem viria e ela passaria a noite com ele.
É o tipo de mulher que passa a noite. Detesta motel. Gosta de transar em hotéis. Liga o ar condiocionado e toma café da manhã continental. Os lençóis são tão impessoais. Lhe dão clareza para se concentrar no prazer. Motel é muita putaria. Essa coisa de tapete vermelho-sangue, água da piscina amarelo-organico. Quadros sensuais ou espelhos, daquilo que ela preferia ver cada pedaçinho, do seu ângulo, refletia. Transaria num hospital, se pensasse bem.
Aquela noite não foi diferente de nenhuma das noites. Exceto por uma coisa que guardo para o final. Ela saiu. Apenas com seu corpo, um batom vermelho e um cartão de crédito.
Calor, um apresenta outro. A conversa começa. Os sorrisos começam. As risadas. É assim que gosta que comece. Não pensa mais no que está dizendo. Fica tão natural. Ela tem uma coisa de intimidade. Fica íntima das pessoas. Às vezes muito. As vezes gostaria que fosse menos.
Já se sentia íntima de Silvio. Ele tinha a barba por fazer. E cheirava bem. Tinha também personalidade e era esteticamente muito atraente. Vamos beber mais um pouquinho? Vamos! Mais um mundo de histórias que podiam ser contadas em poucos segundos. É assim que gosta que comece.
Foi ao banheiro. Sentiu que o salto da bota já tinha ficado muito alto pro álcool que ela havia bebido. Hora de parar. Não teria graça vomitar hoje.
Voltou à mesa. E ai? Vamos transar? Não sabe mais se homem se assusta ou acha a frase afrodisíaca. Sempre aceitam. Mas ela não sabe mais o que eles pensam. Na verdade, não quer saber. É assim que gosta que comece.
Hotel: à essa altura da sua alegria infantil por estar se divertindo, o mais caro. Beijos no elevador, pernas se entrecruzando ainda em pé. Mão sentindo com quem passaria a noite. Mão reconhecendo-lhe o corpo. Cheiro. Mistura de álcool, barba e Marlboro. O seu cavaleiro da noite. Uma hora tudo estaria bem e na outra tudo estaria acabado. É assim que gosta que comece. No canvas.
Adora escovar os dentes antes de transar. Faz parte do ritual. Escovou o dele também. Num ato de carinho, como falho. Tinha que reconhecer: ele beijava muito bem. Mas muito bem mesmo. Talvez o melhor beijo dos últimos anos. Seus ombros tremiam.
A cama às vezes demora a chegar até ela. Seus gozos ganham a corrida. Mas ele era mais apressado. O beijo dele... ah. (Ela suspirava). Estava certo seu corpo estar ali. Sentia isso. Prazer.
Mas as vezes deixava de salamaleques e amava mesmo. Estava amando aquele momento. Seus corpos se comunicavam tão bem. O beijo era tão encaixado. As risadas vinham juntas. A fome também. E continuavam se amando, entre outras coisas que faziam juntos. Mas acho que o tempo todo estavam se amando. E eu é que não gosto de contar a história assim. Nunca sei quando aconteceu de verdade. Será que foi dessa vez? Foi isso que guardei para o fim.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012





Pensei num alfabeto meu, em letras que penso mais vezes. Que uso. Mas aí vejo que estou sem ter com o que preocupar. Uso todas as letras muitas vezes. Falo demais, rabisco demais, mando cartas, e mails, mensagens!

Tenho intervalos em que não fico no meu corpo. Eu saio, e quando volto esse corpo está mais mal tratado.
Não me pergunte onde fico nesse tempo porque tenho vergonha de responder. Qual a sensação quando retorno? Ódio. Porque me abandonei? Aí começa a história de Sizifo de novo, pedra montanha acima, abaixo .
As vezes tenho certeza de que não estou sozinha. Mesmo sabendo que estou. É um sofrimento só. Se eu descobrir mais coisa vou sofrer não muito por mim,mas por quem está perto de mim. Já disse um vez, a loucura é Pink. Punk.
Ia falar de afeto, mas me pareceu uma palavra tão doce. Muito doce. Assim não gosto. Gosto meio amargo. Não que não goste de doce. Minha língua consegue absorver uns milhares de sabores sem ser por associação e sim por memória emocional.
Vou então falar de culpa. Mas nossa, culpa pesa, não é? Culpa pesa como musculação. Alguns músculos doem muito em um dia, no outro dia, outros músculos. E a dor não para. Culpa é uma merda! Até antropologicamente falando, é uma merda de várias religiões, raças, massas e culturas. Chega de culpa, então!
Vamos falar de amizade? Ah, nem sei quem são eles mais. Não tenho vergonha de dizer, tenho dúvidas, às vezes. É meu amigo mesmo? Por que amigo é amigo, filho da puta é filho da puta! Até tomo cerveja por eles. Mas meu mundo é cheio de dúvidas.
Vamos então falar de amor? Mas e o amor? Hã? Responde aí seu safado.....