sábado, 9 de julho de 2011


Acabei de ler Eugenia Grandet, do Balzac. O livro foi escrito em 1833. Leiga no autor, me surpreendeu a sensibilidade com que ele trata a alma feminina. Ele consegue captar necessidades, frustrações, entender reações e os sonhos das mulheres. Se pensarmos na época em que o livro foi escrito, tal sensibilidade espanta mais ainda.
Alguns artistas conseguem mesmo captar o ser mulher.
O italiano Amedeo Modigliani, o artista apaixonado pelos excessos, famoso na Escola de Paris e um dos principais pintores da primeira metade do século 20, fez retratos da amante Jeanne Hébuterne, que já’ `a época competiram com os retratos femininos feito pelo amigo, Pablo Picasso. O ultimo, feito quando a amante e musa já estava grávida, foi leiloado por 4.9 milhões de Euros. A empatia do observador com a mulher retratada ultrapassa a estilização que o artista adotara.
Jeanne, a amante, renunciara a família, aos amigos e a uma vida de abastada para ficar com o artista, que raramente voltava pra casa e quando voltava, era bêbado. Mas que nutria por ela um amor que parece infinito se olharmos para o quadro e lermos sua biografia. Ela se jogou da janela alguns dias depois da morte de Amadeu, em 1920, e morreu de amor.
Homens sensíveis?
Apesar de ter sido duramente criticado por dizer que só as mulheres normais gostam de apanhar, Nelson Rodrigues sabia profundamente dos sentimentos femininos, mesmo os mais vis. Em Bonitinha, mas ordinária, a personagem canalha se redime depois de ir ao fundo do poço. Ritinha, a prostituta, que sempre guardara a pureza de sua alma em meio às depravações do corpo, nunca gozara. O seu “machismo” pode ser explicado em outra máxima sua, a de que somos todos santos e canalhas, simultaneamente. Isso não diminui em nada os retratos literários que Nelson fez das mulheres que amavam, traiam e matavam em nome do amor. O dia a dia das donas de casa dos anos 50 e 60, que ao irem à feira se apaixonavam e freqüentavam os apartamentos dos amados e a noite estavam bonitas e cheirosas para os maridos.
Chico Buarque 'e outro artista que além das de Atenas, entende os sentimento das fêmeas que desejam ardentemente ser tatuagem no corpo dos homens. Quando ele canta a mulher, a voz fraca por fama, se emociona e parece ter dentro dele a mesma sensibilidade que outros artistas, por meio de outras artes tiveram.
Chico tem varias concepções de mulheres, de santas a putas, de Atenas ate Geni. Canta um amor dolorido que dizem só as mulheres sentem e clamam ser a boca de hortelã na manha do amado.
Por que estou citando esses artistas? Quero falar da mulher do século 21 e o que ela quer. A partir de Freud a mulher ganha também a possibilidade e o estatuto de ser histéricas. Histérica pelo que? O feminismo, que quis e quer acabar com o conceito vitoriano e burguês da mulher que e’ submissa e serve para parir, tão bem descrito por Simone de Beauvoir, na minha opinião, descaracterizou um pouco o sexo feminino. Não! Não somos iguais aos homens. Não somos piores, nem melhores. Somos diferentes geneticamente falando e nosso comportamento também ‘e diverso do masculino.
Queimaram sutiãs, lutaram pelo direito a pílulas e os mesmo níveis de poder. No inicio dos anos 90, a mulher começou ate a usar terno, para se igualar em ombro e altura ao homem.
Quer saber? Sou contra tudo isso. E Simone de Beauvoir devia ser também. Afinal submeteu-se aos caprichos de Sartre como uma boa apaixonada das letras de Chico. Nos, as mulheres, somos seres apaixonados, submissas sim, `as nossas próprias vontades que muitas vezes se encaixam com as vontades dos homens. Vejam bem, não são iguais as vontades dos homens, mas se encaixam.
Queremos ser tatuagem no corpo do homem que amamos. Quem nunca assinou o próprio nome com o sobrenome de um namorado ou um paquera? Quem nunca ficou grudada ao telefone esperando a ligação do dia seguinte? Que mulher nunca acreditou, logo depois da primeira noite, que seria para sempre?
Ate as vadias se entregam esperando serem salvas de tantos pintos que as rodeiam. Sim, as vadias também querem a salvação. Alguém que diga a elas que são especiais e únicas, apesar de serem de todos. Geni não deu para o rico do Zepelim apenas para salvar a cidade. Deu para se salvar também.
Queremos a salvação pelo amor. O delírio são, pela paixão. Queremos uma mao forte que nos pegue pelo cangote. Queremos a voz grossa que nos chame de amor ou de vagabunda, tudo na mesma noite.
Queremos ser semeadas pelo homem que amamos e ver a carinha de um ser que simboliza a junção de dois corpos. Queremos acordar cedo com beijos e flores, ceder às ereções matinais como servas de um amor que carregue durante o dia.
Sim, também queremos cargos de poder e independência econômica. Mas duvido das mulheres que dizem que não precisam de homem para viver. Duvido que elas não se encantem com o elogio diante de um novo lingerie ou de um bolo mal feito. Duvido! Duvido das mulheres que querem ser só’ santas ou só’ putas. A mulher ‘e versátil, ela pinta a unha de todas as cores para atrair o macho. Os decotes não são para o espelho, são para eles, buscam o olhar embasbacado de um homem apaixonado. Ou não?

5 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Ensaio muito bem bordado, Camilla. Li com muita atenção porque aceito o que você escreveu como uma verdade. Estou lendo o diário de Anaïs Nin (ela que teve amantes desde Paris à Nova Iorque) e percebi o mesmo que você. Anaïs buscou a liberação sexual. Ela quis viver de sexo, amor e liberdade. Mas está claro em seu diário. Ela queria tudo o que você mencionou: um homem que a amasse e a protegesse. Feministas torcem o nariz para este fato. Não adianta a gente correr do que sentimos. O único problema em tudo o que as mulheres sentem (ou sentiram) desde séculos passados é a questão da expectativa. Mulheres, por serem diferentes dos homens, também amam de forma diferente. Esperam receber o mesmo amor que doam. E este é o grande impasse: Homens nunca irão amar como amam as mulheres. Somos de mundos opostos.

Eu simplesmente adorei.

Miriam disse...

Uau, sensibilidade á flor da pele. A pele em flor.......voce se encarnou em todas as mulheres de todos os autores e poetas e, como sempre, atingiu o nirvana intelectual. E abriu mais um pedaço do universo feminino, que é infinito. Assim como infinita é sua inspiração, são as letras, palavras, frases e textos que brotam de voce. Parabéns.
Eu simplesmente adorei, também.

Alexandre Henrique disse...

Eu pensava que o mundo das mulheres estava perdido; e vocë me vem, com este labirinto de sutilezas femininas,de outra realidade.Uma mulher realmente só desperta em segredos, fui oque pude entender.

Beijos, Flor.

Camilla Tebet disse...

Relendo: puro lugar-comum!

Calu Baroncelli disse...

Sinto um desejo de maternidade e beijo com a boca de café pairando neste post :)