Como foi o fim
Deixei de te amar. E
ai tudo se resumiu num post it grudado
na geladeira. Torto de desleixo. Precisávamos ter sedimentado isso. Coisa que não
se fala, se faz. Foi tudo muito de repente. Como matar barata com chinelas.
Abrir a janela pra tomar um ar. A música nem chegou a tocar inteira. Foi tudo
besteira. Não sou maldosa, ando com as minhas pernas, sinto o meu peso.
Eu quis te avisar antes, mas com medo, retrocedi e tentei
continuar te amando. Mas a culpa também
é sua. Que não me olhou enquanto eu dormia depois do segundo mês. Ontem à noite vi um buraco na rua. Sabe o que pensei? Em nos dois. Olha que triste.
Um vazio que se enche quando como algodão doce. O perfume acabou e restou uma
mulher cheia de desejos, com paixões que queimam a mão. De você não sei o que
restou. Nem me cabe. Nos dois já estávamos lá fora. Coube a mim ir um pouquinho
mais longe para que as facas, que são palavras, não me matarem. Eu quero
surpresas. E você não me surpreende mais. O recipiente do amor esfriou.
Estávamos fazendo in vitro.
Esses dias eu estava procurando escrever como o amor acaba.
E a melhor maneira de contar isso é contando a nossa história. Não que não
tenha sido linda. Cheias de montanhas e neve. Cheias de quartos que só não eram
inabitáveis porque dentro estávamos nos dois fazendo amor. Deveríamos ter ido
mais devagar. Não esgotar tudo logo no começo. O amor, pra ser amor, tem que
ter ritmo, e às vezes ser lento.
Eu comecei outro itinerário. E sozinha.Como mulher que sai à rua nua e chorando. Mas eu estava de botas e jeans. Aqueles que nunca se
perdem. Botas e jeans são sempre uma certeza. Amor eterno.