quarta-feira, 11 de junho de 2008

ÂNSIA


Estou com ânsia. Ânsia de vômito de palavras colocadas onde nem papel é. O papel me disse outro dia que o relógio está andando mais rápido do que se pode ver. E eu ouvi a voz no passado bem aqui no meu ouvido e me fingi de louca para não acreditar. Dei uma espiadela no futuro com os óculos do presente e quase fiquei míope.
A fada, aquela que de tanto madrinha, cansou de dar presente, foi viajar, ano sábatico, e não posso contar com ela. Períodos helênicos com pouca força.Estou com ânsia, vontade de vomitar verde, sem nem ao menos uma letra. Desacredito rimas, desacredito composições pretensiosas. Sonho travesseiros de pena e acordo com pena de mim. É tudo parte mentira. É tudo parte. Nada valida. Nada confirma. Não é? Então me mostra onde errei? E não me venha com essa que é errando que se aprende.
Amor de ontem é amor de ontem. Palavra de hoje é coisa que deveria ter ficado numa das mil gavetinhas da minha mente. Imagens roubadas deveriam ser pagas e elogiadas. É tudo um roubo, um furto. Decoração é visual, música é entretenimento. Eu não sou parte. Eu sou disforme e à parte. Meu cardápio está pela metade. Sem bebidas e sem sobremesas. O prato principal está demorando muito e os començais desistindo dos pedidos. O garçom está bem vestido, o restaurante bem decorado, mas a comida não satisfaz.
Os dias estão iguais. E não tenho isso de falar de cinza. Dia é dia. Cor é cor. Seja de que cor for, estou falando mal dos dias. Perguntei a alguém o que achava, ele disse que botava muita fé. Assim como deve ter fé naquilo que não vê. Porque por aqui também não se vê. Aqui é falta do que quero ser. Está faltando e eu achando que não.
E falando em ânsia, não anseio. Não anseio. Não anseio. É isso. Aconteceu assim. De uma hora pra outra a decisão foi tomada e agora escrevo assim. Tem volta, mas ainda não posso optar por ela. Por enquanto minhas palavras dormem, com ânsia de não acordar.

7 comentários:

Carolina Sperb disse...

eu estou tentando lembrar qual é a parte da minha vida que eu dormi e não lembro de ter vivido?
por que me acho tanto nas tuas palavras, camilla? incrível...
estou com ânsia, assim como você.
mas minhas palavras não dormem, gritam. gritam por um entendimento, gritam por uma emoção e não pela razão... gritam e anseiam tocar algum coração.
sinto que vou explodir por dentro.
e vomitar palavras, expulsar sentimentos.
p*ta texto.
adorei.

beijos procê

mari lou disse...

é mesmo. os processos interiores não são objetiváveis. não dá pra virar palavra o q se sente. a gente chega perto, canta qualquer coisa q aproxima a impressão, mas nada é, no papel, como dentro se apresenta.

e é complicado pensar assim. mas, deixa q aos poucos a gente se acostuma e tenta, sempre mais, aproximar a palavra do sentimento. mas, palavra é palavra, sentimento é sentimeto.


um bjo,

adorei o texto! lembrei dum tempo dantes!

Narradora disse...

Moça,
Mesmo dormindo suas palavras ecoam.
Bjs

Joice Worm disse...

Adoro vomitar palavras...

Letícia disse...

É... e tem gente que anda por aí lendo tanto livro e sequer lê o texto de um amigo que te faz ver que tem mundo lá fora. Também tenho ânsias - não suporto pretensão, ambição, e qualquer palavra que rime com coração e etc e tal. Tenho ânsia quando ouço gente que se acha. Maior vontade de dizer - Ei, vc não está certo ou "Go Grab Some Wood". Ânsia mesmo e da grande. Pensei que fosse a única já que ninguém anda a reclamar. Todo mundo tão quietinho... Esse silêncio de se acomodar é devastador.

E amor de ontem é amor de ontem, mas é bom lembrar. Eu gosto. Sou nostálgica, saudosista, masoquista... sabe-se lá.

Bjs grandes.

Letícia

João Neto disse...

"Meu cardápio está pela metade." (Camilla)

Seus heróis também devem ter morrido de overdose. Os meus morreram. No meu cardápio sobraram muitas bebidas, pus fim ao cigarro e hoje sinto falta. Vou seguindo. Ânsia é natural em mim. Vomito pouco, a não ser, é claro, quando escrevo.

Anônimo disse...

Ih, a moça tá com a cabeça no penico, tia!
Frase de Daniel Tebet, 5 anos.