As duas subiam a escada do prédio, voltavam da escola. Fofocavam, como fazem meninas da idade delas. Bolsas iguais, sapatos legais e cabelos bem longos para que no final de semana parecem mais velhas. Falavam de uma “P” que tinha passado o intervalo com um fulano.
Estavam indignadas. E eu na frente, ouvindo e esperando o elevador que demorava. Queria que demorasse mais, assim a história cresceria. Mas elas olharam para minha cara de interesse e pararam. Desci primeiro com a história na cabeça. E foi assim. As duas chegaram em casa e quem encontraram? A “P”, que transava com o pai de uma das meninas. Coisa de louco. A menina caiu aos prantos e a amiga não sabia se ria da situação ou se solidarizava com a amiga. Como a “P” tinha tido tempo de sair e chegar antes dela. A “P” se arrumou correndo e foi embora. O pai, no mínimo constrangido implorou para a filha não contar nada a mãe. Mas será? Será que ela vai conseguir guardar um segredo desses? Eu não conseguiria. O fato é que a outra amiguinha foi embora também e ficou só pai e filha no apartamento. Recomposto, o pai implorava a menina.
- Foi uma besteira que o papai fez, pelo amor de deus não vai estragar nosso casamento por causa disso.
- Besteira pai? Você transou com uma amiga da minha escola. Ela tem a minha idade. Isso é bem mais que besteira.
_ Eu sei, o que eu fiz foi imperdoável, mas pelo amor de deus, sua mãe deve estar para chegar, não diga nada. Promete? Eu faço o que você quiser.
Diante disso a menina ficou pensativa. Foi pro quarto e bateu a porta sem responder.
Pais são assim mesmo, prometem tudo. São capazes de dar coisas materiais, de se tornarem verdadeiros escravos para guardar um segredo.
No quarto, ainda chorando, a menina pensou que se contasse para mãe, iria mesmo acabar com o casamento deles. Não queria isso. Mas a coisa também não podia passar em branco. Ela podia tirar proveito disso sem acabar com o casamento dos pais.
Mulheres, especialmente meninas podem ser maquiavélicas quando querem . Tem lá um dom guardadinho, uma coisa meio”Engraçadinha”. Toda mulher é rodrigueana ou ele é que as catalogou direitinho.
Hora do almoço, a mãe avisa que está na mesa. Todos sentam. Pai, mãe, ela e irmão de 8 anos. Todos sorriem, inclusive ela.
_ Papai, que horas você chega do trabalho hoje?
- Por que o interesse filha? Você nunca quis saber disso.
_Pois é mamãe, mas estava pensando se hoje não poderíamos sair todos juntos para jantar.
Terminou a frase e olhou o pai, com um sorriso malicioso no rosto.
- Hoje não dá filha. Vou receber uns clientes de uma outra usina, pode ser amanha?.
- Não, tem que ser hoje.
A mãe fez uma cara de espanto. Não entendia o que estava acontecendo com o a filha.
_ Tudo bem filha, eu desmarco com eles, pode marcar onde quer jantar.
A filha riu, satisfeita.
A mãe não entendeu, mas tinha tanta coisa para pensar. Se vão jantar fora, que ótimo.
A menina passara tarde fazendo uma lista do que precisava comprar para seu novo guarda-roupas. Iria pedir tudo ao pai assim que tivesse um momento sozinha com ele.
A noite foram jantar,. O pai falava pouco, apenas sorria em resposta a filha que olhava para ele com uma malícia,que ele desconhecia nela.A mãe parecia nadar no mar da ignorância da felicidade familiar. O menino curtia jantar fora dia de semana.
Quando chegaram em casa, a menina chamou o pai no quarto, beijo-o no rosto, e para isso teve que erguer os pezinhos, agradeceu o jantar. Ele ficou satisfeito por alguns segundos. Logo ela disse:
- Preciso de um cartão de crédito sem limites, meu guarda roupas está um lixo, como pode ver. Disse escancarando o guarda roupas....
_ Como assim, sem limites?
_ Isso mesmo que você ouviu papai, sem limites.
O homem baixou a cabeça e foi para o quarto, onde tomou um remédio para dormir e capotou.
Ela deitou-se na sua cama deliciando-se com tudo que compraria com o novo cartão. Chamaria até a “P” para fazer compras com ela. Sentia-se poderosa a menina. Sentia-se mulher. Vai ver e diferença entre uma menina e uma mulher é a sensação de poder.
No dia seguinte corria tudo normal. Menina foi para escola, pai para o trabalho. Na hora do intervalo, menina interpela “P”.
_ Você quer transar com meu pai de novo?
- Fala baixo, ta doida?
- Ué, doida por que? Você já transou com ele. É bom? Quer transar de novo.
Aqui não sei se algum psicanalista diria que a menina morria de inveja de “P” ter transado com o pai e ela não. Mas o fato é que ela incentivava “P”.
_ Quero vai! , responde P, meio sem saber o que fazer.
Menina liga no celular do pai.
_ Pai, vem para escola agora, a P quer transar com você.
- Você está louca, essa história tem que parar. Eu estou trabalhando, não quero transar com essa menina. Pára com isso e vai estudar.
- Você escolhe, ou vem ou conto tudo para a mamãe.
O pai entrou em desespero. Não podia ser refém da filha dessa maneira. Agora além do cartão sem limites, teria que transar com a menina quando a filha quisesse. Isso já era doentio.
- Escuta, faça o que quiser. Eu não vou.
- A menina fechou o celular com um sorriso no rosto. Em alguns minutos ligou para a mãe. Contou toda a história, em detalhes.
Assim,satisfeita da brincadeira ter acabado, esperava chegar em casa e presenciar uma briga de divórcio com vasos voando e tudo mais.
Quando todos chegaram em casa, uma surpresa. A mãe havia se enforcado no banheiro de casal.
O pai horrorizado tapava os olhos do filho e olhava para a menina com expressão de ódio. E ela.
_ Não disse? Eu te avisei que contaria tudo.
4 comentários:
...minha nossa senhora,
que imaginação sem limites!
há tempos que eu não te lia
mas continuas cada dia melhor.
ohh vida louca, esta!!
beijos mil...
continuo adorando
você...
A sensação é de "minha nossa" mesmo. E a maldade chega à casa de família. Eu gostei e muito. Adoro verdades. E concordo com a questão das mulheres. Precisa ser muito mulher pra admitir que somos um tanto rodrigueanas.
Beijo, Camilla. Te vejo no twitter. =)
Você é a versão feminina de Nelson Rodrigues...Muito bom! Criatividade! Beijo
achei teu blog por acaso e amei!!!!
ele é lindo e escreves muito em... parabéns!
Postar um comentário