segunda-feira, 30 de junho de 2008

Festa em terra larga


Pude, todavia não fui. Achei que estavam abusando dos adornos. Os tapetes eram muito imponentes, os vasos muito artificiais, a luz muito intimidante. Luz é pra ser intimista e inspiração é pra ser levada a sério. Qualquer jardim tem verde e Fernando Pessoa já disse “condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”. E citações como essas enfeitam o texto em que falta imaginação. Ou transborda imaginação.

Meu peito é sempre agitado, brinca ao som de músicas antigas. Brinca comigo, me faz escrava de movimentos. Parada, eu canso. Então não fui! Para em outro lugar fazer coisa melhor. Para sambar com meu corpo, sozinha à meia luz, para tirar os excessos e brincar no espaço vazio. E quem fala de espaços está preenchendo linhas. E quem tem medo de perder as palavras tem muitas delas e não sabe como usar. E quem tem medo de escrever está preso à alguma obrigação estética que não faz sentido algum.

E eu me soltei no meio da avenida, procurando olhar cada movimento à minha volta no meu ritmo. Olhando as coisas devagar, elas demoram mais a passar e o prazer pode demorar mais também. A pressa é inimiga do prazer, a pressa é inimiga do palácio.

Um palácio sem rei, sem rainha, sem príncipe. Um palácio anárquico de sons e luzes. Um palácio molhado de boas bebidas que geram discussões bobas. Bobas assim, como deve ser a vida. O hoje é bobo e é meu. Hoje só. Amanha é uma alegria que me faz ranger os dentes só de pensar. E eu nem canso.

Ando pelos jardins do palácio que tem a grama alta e ninguém quer cortar. Ando de pés descalços, pois perdi meu sapato na última bebedeira. Meus amigos tocavam violão, talvez Legião para acampamento, no jardim do palácio. E os serviçais fazem sexo livre nas poltronas antigas porque tudo saiu da ordem. Porque a ordem não é mais ordem, é bagunça. E bagunça da boa, que deixa memória para vários dias. E até um palhaço apareceu, pintado dele mesmo e rindo de todos nós. Rimos também, afinal a vida é feita para sorrir e não para apagar luzes nem fechar idéias.

Todas as idéias estão abertas, procurando razões ou contradições. Todas as idéias estão aí para serem mudadas ao sabor do vento que sopra no ouvido de cada um. Um ventinho assim, diria brisa, que bate leve e faz tudo ir à direção contrária. E daí se quem olha diz que não entende? Não posso mais que isso. E isso aqui tá muito bom. É tempo de festas anárquicas, de livros novos, de lançamentos de foguetes, de sexo livre e de ordem invertida. Uma meia de cada cor e eu inteira de paz. Vestida de mim mesma numa festa à fantasia no jardim do palácio de terra larga.

Até uns loucos apareceram nos chamando de loucos. Rimos muito. Afinal, quem não é louco está com a porta fechada. Colorida a porta, azul ou vermelha, com cadeado. Mas combinamos, todos da festa do palácio, chutarmos a porta até ela abrir. E vamos chutar, mais tarde quando a bebedeira passar. Ou chutamos agora? Um balé de chutes libertadores, de gritos de horror frente ao triste. Um protesto contra o cinza. Isso! No jardim do palácio de terra larga, faremos um protesto contra o cinza. E quem pode nos julgar? Hã?

19 comentários:

Assim que sou disse...

Te leio bem cedo e reflito sobre sua frase final: " E quem pode julgar?". Porque, afinal, cabe julgamento? Acho que não. Definitivamente.
Você escreve deliciosamente. Gosto muito.

bjs. Veronica

Anônimo disse...

Quanta poesia Camila!!!!Que texto maravilhoso!Genial!Eu salvei-o aqui entre meus poemas favoritos no Pc rsrsrs...lógico que procurei colocar o nome do poema e da poetisa!Lindo! bjosss

Ana Cláudia Zumpano disse...

obrigada pela visita!
vou linkar vc e visitar sempre... agora estou d volta pro blog...
bjos ;***

Thiago disse...

oi camila tudo bom? você comentou meu texto instant karma lembra? fiquei de passar aki, mas demorei porque andei ocupado. prazer ^_^

Seu castelo me agrada sabia? o meu castelo deve ser no mesmo bairro que o seu. Tem portas coloridas, árvores enormes, cômodos sem sentido e fragmentos de lemranças perdidas pelo chão. tem gatos dormindo pelos cantos, Música Urbana e ruídos sem nexo. No meu castelo tem dúvidas. tem chamas azuis na lareira.
Eu andava pela calçada contando as folhas amarelas, e via as somnbras das caixas de correio mudando de posição com o caminhar do sol.
Na minha cabeça eu tinha algumas certezas. No meu coração tem gavetas repletas de horizontes e vento no rosto. No meu horizonte, tem apenas pontos brilhantes...
bem vinda a minha casa querida, apareça quando quiser...
bjos ^_^

Beto Mathos disse...

Saudades de aparecer por aqui.
Mas não importa, o importante é vir, ler você e, sempre, ficar boquiaberto com o que escreves.
Beijo!

israel disse...

ninguem pode lhe jugar...

obrigado pelo comentario!!

belissimo texto, voçe como sempre escrevendo esplendidamente bem!!

bjos!!!

Letícia disse...

Texto das anarquias, Camilla. Mulher de viver é vc, viu? Falando alto sobre o medo de falar e escrever preso à estética. Sabe que acredito em uma única estética? Sim, a estética dos palavrões. O resto é confusão. Vc escreve livre e isso sim é prazer.

Bjs da sua fã.

Letícia

Cla disse...

"afinal a vida é feita para sorrir e não para apagar luzes nem fechar idéias."
nossa,depois desse,virei fã!vc escreve muito,muito bem,de forma ao mesmo tempo requintada,cheia de imagens,cores,sensações,mas simples,no sentido de acessível e não rebuscada.parabéns!keep writing!
=D

Anônimo disse...

Vejo entusiasmo no teu peito.

E amor na tua poesia...


Abraços, flores, estrelas..

Anônimo disse...

...estufei o peito, abri os olhos da mente, e ousei construir um "castelo" no corredor do hospital...quando dei por mim, já era hora da troca de acompanhante...sorri, passando a guarda para outro turno, e no trajeto de volta pra casa, optei por caminhar entre árvores e flores, que amorosas, me deixaram sentir que estou VIVA!...saudades, amor...muahhhh

Anônimo disse...

Liberdade de viver, sentir, pensar e se expressar. Nem sempre todos tem esses "pequenos" dons. Aliás, até têm, mas trancam-nos à sete chaves.
E às vezes, até nós mesmos nos sentimos presas desses medos.

Arrombemos as portas!

Beijinhos!

aluaeasestrelas disse...

"...Afinal a vida é feita para sorrir e não para apagar luzes nem fechar idéias..." e "...Afinal, quem não é louco está com a porta fechada..."

Vc, hein! Fantástica como sempre... É verdade, a vida é muito mais que cinza, branco, preto e marrom... Ela é colorida. É mágica, é surpreendente e nos ensina tanto... E nos faz sorrir tanto... E isso é nosso. Um presente. Assim como teu texto.
Beijo grande...Já estava com saudades.

Anônimo disse...

Idéias que vem da bagunça e mudam. Proteste e chute. Por fim gritemos: Abaixe o cinza.

Anônimo disse...

Fico cada vez mais fã do seu texto. E queria muito um texto seu pra minha mostra Coletivo: Kaos.
Ficaria muito honrado, viu moça? rs
Beijos

Janaina Fainer disse...

saudade de vc
das coisas lindas q vc escreve
cade? cade? cade? cade mais?

mari lou disse...

hahaha

massa!

axo q essa é a festa q todos os "instintivamente livres" qerem participar... nada de pomposidades... pomposo é pesado, é prisão, é cobrança.

lembrei d qdo eu fazia oitava série, tinha dois all stars. um preto, um vermelho. fui pruma festa da escola, com um preto, outro vermelho. rsrssrr

sei lá pq eu fiz aqilo... a coisa q sei é q, como no seu texto, tenho sempre esse instinto d qebrar as regras, n"Um protesto contra o cinza", colocando minha própria cor no q faço, ond estou, em mim mesma...

"Um palácio sem rei, sem rainha, sem príncipe"... e dá-lhe vida e liberdade!

adorei! ainda bem q vezenquando existem umas escapadelas pra gente encontrar uns amigos, pra construir estes castelos, néa?

rsrssrsr


bjocona,

adorei o texto!

O Profeta disse...

E este Sol impõe a claridade
Pôs no celeste a Lua a bocejar
Perdi a conta das estrelas no céu
Ergui-me em bicos para as contar


Voa comigo sobre as emoções


Mágico beijo

Anônimo disse...

Minha amiga Camila..que espaço lindo....fantástico...eu não conhecia aqui...eu abri um blog aqui,mas acabei fechando...não conhecia quase ninguém...mas eu gostava muito...é difícil manter os dois...mas quem sabe qualquer hora detsas eu volto..rs....e o que falar deste texto?..Falar sobre seus textos é mesmo algo que não pode ser simples...ler as coisas que escreve é viajar de uma ponta do estreito para outra...muita coisa acontece neste percurso...Adorei...obrigada pelo convite...volto sempre que puder!

Narradora disse...

Fizeste palácio minha cara Camilla.
Seu texto me fez sair da janela de onde eu espiava a festa... me colocou passeando nos jardins.
Lindo, como de costume.
Bjs