Todas as noites eu vinha pondo leite na canequinha no chão. Manhã seguinte, o leite ainda lá. Jogava fora e ia viver. Afinal, jurei que viveria. Fiz uma promessa que deixaria a vida acontecer. As horas do dia passavam, assim como passam.
Noite. Voltava para casa, exausta de viver e punha o leite na canequinha.
Manhã seguinte adivinha? O leite estava lá. Estava me cansando disso. Era como se o pouco feito fora da vida jurada e prometida não tivesse valor. Ele não vinha miar ou beber. Talvez estivesse vivendo também. Talvez no início de ser gato tivesse prometido deixar a vida acontecer e não tivesse tempo para tomar o leite que eu oferecia.
Essa semana acordei gata. Subi no telhado, atrás dele. Psss, psss. Não encontrei além de telhas e folhas que são casas de parasitas sujos. Pulei do telhado, esperando quebrar a perna e poder viver um pouco menos a vida prometida. Mas aquele era meu dia gata. Não quebrei pernas. E lá fui eu para a vida de balões. De onde se vê o mundo de longe. De onde uma árvore é tão pequena que cheguei a duvidar que existisse.
Vida de assentos. Pousos calmos, noites sem chuva e pipas sem linha. Fui lá viver. Ontem à noite quando coloquei o leite na caneca, me lembrei: eu não tenho gato.
Foto de mehmeturgut - deviantart
Noite. Voltava para casa, exausta de viver e punha o leite na canequinha.
Manhã seguinte adivinha? O leite estava lá. Estava me cansando disso. Era como se o pouco feito fora da vida jurada e prometida não tivesse valor. Ele não vinha miar ou beber. Talvez estivesse vivendo também. Talvez no início de ser gato tivesse prometido deixar a vida acontecer e não tivesse tempo para tomar o leite que eu oferecia.
Essa semana acordei gata. Subi no telhado, atrás dele. Psss, psss. Não encontrei além de telhas e folhas que são casas de parasitas sujos. Pulei do telhado, esperando quebrar a perna e poder viver um pouco menos a vida prometida. Mas aquele era meu dia gata. Não quebrei pernas. E lá fui eu para a vida de balões. De onde se vê o mundo de longe. De onde uma árvore é tão pequena que cheguei a duvidar que existisse.
Vida de assentos. Pousos calmos, noites sem chuva e pipas sem linha. Fui lá viver. Ontem à noite quando coloquei o leite na caneca, me lembrei: eu não tenho gato.
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