quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Desculpem a menina

Sentei para contar uma história. E por que não uma história que se conta sozinha? Uma história assim que vai acontecendo conforme as letras vão saindo. Uma história assim de uma menina que não conhece bem o caminho e se perde em meio a tantas árvores. São pedras também. Afinal todo mundo encontra pedras no meio do caminho, disse o poeta. E pedras para pular. Assim escolhe a menina que pula. Mas a história é dela e de pedras e árvores se faz um conto que tenta contar sua história. Perdida, a menina anda, anda e parece chegar a lugares errados. Bate às portas, pergunta quem mora nas casas. Ouve os barulhos, sente os cheiros e sabe que está nos lugares errados. Ela se sente mal. Não quer mais lugares errados. A menina que caminha quer chegar a lugares certos para viver em harmonia com árvore e pedras, porque elas não deixam de existir. Ela dorme, na cama emprestada, que pode ser dela também se quiser. Acorda e volta a bater em portas. Nada de encontrar o que procura. Uma busca, assim deveria se chamar a história da menina perdida. Ela não se lembra de quando se perdeu. Foi acontecendo assim, devagar, uma rua errada depois da outra. Um caminho torto aqui, uma viela ali e lá estava ela, muito longe de onde queria realmente estar. Voltar a achar o caminho é tarefa árdua de quem tem bons sapatos e força nas pernas. Às vezes ela se cansa, outras, pensa em desistir. Perde o lugar das vírgulas, esquece os acentos e assim sente-se ainda mais fora do caminho. Mas assim a menina vai procurando, na ansiedade normal de uma menina que se perdeu e o caminho parece longe, ou encontra-lo demanda muita força, que ela não tem. A menina não sabe mais como escrever. Desculpem a menina.