domingo, 17 de maio de 2009



O cd é pirata é assim mesmo, emperra. Bem quando estou concluindo um pensamento com a música, a coisa trava. Acontece assim comigo, chamo isso de azar.

Outras coisas acontecem comigo. Quando eu penso que é dia de pipoca e dvd, as pessoas me lembram que a hora do trabalho ainda não acabou. Acontece.

Estou no analista e choro copiosamente. Ele não me oferece um lenço. Quando se toca e oferece, eu pego e as lágrimas param de cair. Será que isso tem uma explicação psicanalítica?

Sempre quando a água sobe, estou de calças curtas. E chove por aqui viu, ah chove. Eu nunca estou de guarda-chuvas.

A cama é a cama e para a cama assim como a arte é a arte pela arte. Outros dizem que não. Falar a verdade não entendo muito de arte não. Sou artista sim, do meu palco.









Foto : CAOS by ~SELKETINFINITA


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Dor


Se não posso escapar do sofrimento e do desespero,
decidi: vou vive-los plenamente.
Calma, mas vive-los.
Vivo chegando a essa conclusão.
O difícil não é sentir as coisas, o difícil é passar o tempo tentando evita-las.
Sofrimento? Com limão e gelo, por favor.
Desespero? Põe uma dose de tequila e manda ver.
Entrego meu corpo todo a você. Tome conta dele.
Sinta até doer roer os ossos.
Pense até o desespero te tirar do lugar.
Mas tente respirar entre uma onda e outra.
Vai ajudar.
O corpo fica frio, a alma vazia. Mas deixe estar, é assim, na pré-morte que se descansa.
Isso funciona. A dor sempre tem uma função na vida. Doer é verbo a ser conjugado.
Eu doou. Conjugo assim, do meu jeito, pois é minha a dor.
Dor se conjuga, mas se excomunga? Você acredita em milagres?
Eu acredito em reviravoltas. Em cambalhotas e palhaço fazendo graça pra mim.
Acredito que um dia nasce diferente e o sol brilha com outra vontade. Acredito em Dai-me.
Um dia, Não hoje.
Dor é coisa traçoeira. Dói um pouco de bom e dói um pouco de mal. Esperta a dor.
Eu faço infusões e peço a mágicos e aos duendes que venham pra perto de mim. Magos mitológicos, duendes celtas. Sinto-me acompanhada então. E a dor passa um pouquinho e se transforma um pouco em fraqueza.
A dor atinge o cúmulo quando pensar o próximo minuto dói. Aí vira dor de doer.
Depois que os magos chegam a dor vira coisa pra lembrar. Não passa, mas entra pra memória.
Dor aperta os olhos, contrai a mandíbula e retesa as extremidades. É assim que te descrevo fisicamente a dor.
E quando estou fraca me entrego à mentira da calma. Deixo ela me dizer que tudo vai ficar bem. Um pouco de fantasia traz sentido à dor. Fantasia cor de rosa, ou da cor que eu quiser para pintar as dores. Disfarça-las.
Eu perco a vontade de contar histórias porque canso das idas e vindas da dor. Nunca sei como vou estar. Não crio rotina e por isso me perco nas palavras. Perco-me delas.
Ai eu choro, um choro sem dor. Longe das palavras, mas sem dor.É sempre um choro. Mas é diferente.
Me anestesio e me coloco a um andar em cima da dor, mas sempre vendo que ela está logo abaixo.
Seguro as rédeas para não cair nelas. Relincho.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Espelhos


Se essa dor se olhasse ao espelho se estranharia. Há muito o que dizer do estranhamento e do estranho. Mais ainda do espelho.
O meu hoje se quebrou. Rachou ao meio, um corte tão preciso que parecia de mentira.
Mas era espelho, não poderia ser mentira. Era a verdade em duas metades.
Não recolhi os poucos cacos que caíram ao chão. Pensei pisar e deixar sangrar o que causa estranhamento.
Antigamente curavam febre com sangramento. Deixa sangrar que o mal sai junto?
Não pisei. Afastei-me e sentada fiquei olhando o espelho partido e a imagem que ele refletia. Pensei cada pedacinho dessa dor que quebrou o espelho. Pensei quando ela ainda era felicidade. A novidade sempre sugere saltos. Dor é borboleta, que já foi lagarta e a transformação é natural. Fiquei com raiva, ali em frente aos espelhos, pensando que toda felicidade vira dor.
Mentira isso. Coisa de mitologia de carregar pedra e ser sempre castigado. Peguei então os dois pedaços de espelhos, colei-os, trabalho que demorou uns bons minutos de rebeldia contra a natureza e coloquei-o de volta à parede. Amanhã volto a olhar-me.








Foto-MiRRoR- by ~day-light