sábado, 11 de junho de 2011

Molhada

O problema é que as horas passam. As idéias mudam, a cabeça fica e o corpo padece. O sentido já perde o sentido. Nada mais é tão querido. A duração ou o tamanho do amor acabam com o conceito dele mesmo. Então tudo vira uma música que tem começo, quando estranhamos o som , o meio, quando nos deixamos levar pela emoção da melodia e o final, quando ela apenas acaba. E depois o silêncio. A escolha de outra música. O cuidado com o repertório. O que ainda faz parte de mim?O que ainda meus ouvidos querem? Que frutas faltam na minha cesta? Penso nas cores, nos sabores e nos cheiros, básica assim, me livro de mim mais um pouco e sou rudimentar como madeira que rachou. Penso em elementos que me deixem sentada na grama, com o pé na terra e a cabeça na chuva. Assim repito a música. É também uma escolha. Por que não ouvir tudo de novo? E de novo.. e de novo. E mais uma vez, até cansar os ouvidos e tentar dormir rezando pro silêncio não ser notado.
As estações que mudam, meus hormônios, minha pele e meu cabelo. Eles caem às vezes. De vezes em vezes. E eu assisto, passiva, a bandeja das minhas limitações ser servida a quem quiser se fartar. Bêbados fazem comentários quebrados e cheios de vírgulas. Como entender o outro fosse tarefa de bandeja. Mas cá dentro estou sentada na terra com a cabeça na chuva, que cai quando quer e sem aviso. Vem de surpresa e eu comemoro que ainda posso me molhar. Vivas.

4 comentários:

Alexandre Henrique disse...

E não é que vc voltou assim, neste silencio de chuva, estava com saudades. Abraços de seu fã de sempre,

Alex

Márcia Vendramini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Márcia Vendramini disse...

Que inspiração! Lindo ver fluir tanta criatividade e emoção. Beijo.

Edson disse...

Seus textos me fazem refletir e pouca coisa dá mais prazer que isso... Bjs.