Eu, eu, eu. Coisa chata, eu. E como telefone sempre toca na hora errada, atendo com descaso. Já disse que não faço mais sacrifícios. Só o que me vem com prazer. Eles se oferecem pra vir me buscar. Aceito. Me arrumo até sem sacrifício. Eles chegam de pernas duras e olham curiosos. Eu tenho as pernas moles de quem sabe o que põe pra dentro da cabeça e assopra pra fora.
Estão todos na minha casa de tijolos. Todos. E a curiosidade mostra sorrisos. Eu aprecio sorrisos. Mas não faço mais sacrifícios, pois agora me sinto bem.
Vamos ao teatro e depois a um bar. Mas eles não se levantam do sofá. Conversamos conversas tolas de falar rolando. Tudo curiosidade. E eu falo até onde não é sacrifício. Fico com vontade de já ir. Planos são feitos para serem colocados em prática. Quero ser platéia. Vamos gente. No carro:
- Mas você está bem mesmo?
- E por que não estaria?
- Ah, seja honesta vai! Não está com saudade dele?
- Estamos preocupados, seja sincera.
Não! A curiosidade queria o mal. E eu não faço sacrifícios. Acho que a modernidade não combina com sacrifício. A vida hoje é só pra ser feliz.
Abro a porta do carro. Sem raiva, rancor ou ódio. Sem curiosidade, interesse ou respeito. Pronto, agora está acertado: eles querem saber de mim e estão curiosos pela parte ruim. Eu, que não faço sacrifícios, vou embora. No caminho de casa o chão me ilumina. Sinto-me forte por não fazer sacrifícios. Certo orgulho. Eu, eu, eu! Sempre eu, argh!
Foto by Karcos. Deviantart.
8 comentários:
Mundo perigoso este contemporâneo, alimenta as nossas crianças com universos multicoloridos e brilhantes, que matam elas com uma curiosidade infinita.
Sim é forte por não fazer sacrifícios.
¨Eu, eu, eu! Sempre eu, argh!¨ é uma maneira linda de definir o que birra, mas sabe dividir, sem sacrifícios...
Ah este texto protege tanta coisa, tantos tijolos, tantas coisas ....mas é assim mesmo, sem sacrifícios, vale apena, afinal quem vai da vida a tudo depois?
Ah Camilla você escreve como uma amiga.
a curiosidade nem sempre é perniciosa.
e os tijolos também caem...
os teatros as vezes são chatos e o chão sempre é o limite, com ou sem luz!
bisu
leilinha
Já disse que não faço mais sacrifícios. Só o que me vem com prazer.
Eu e eu.
minha sabiá, minha zabelê, toda meia-noite eu sonho com você, se você dormir eu vou sonhar pra você ver...
O único sacrifício que vale a pena é aquel que fazemos em defesa da própria LIberdade!
Abraços, flores, estrelas.
não fazer sacríficios nem sempre é fácil... nem sempre, mas é excelente qdo se consegue... beijos
bom final de semana.
E tem como fugir desse "Eu", Camilla? Acho que até em textos científicos o Eu fica lá se exibindo. A gente que escreve vive através esse Eu o tempo todo. Me fez pensar... e modernidade não combina mesmo com sacrifício. Combina com prozac e um pouco de falsidade pra se sentir melhor.
Bjs.
E adoro seus textos modernos porque vivo na modernidade e Platão não me diz muito sobre mercado de trabalho, Tpm, relacionamentos e outras coisas mais.
E eu tb, que vim parar aqui de curiosidade, lendo o blog da Alice e tomo essa porrada com luvas de pelica no meio da cara.
É terrível quando chega a noite de sábado e todos estão escrevendo melhor que nós.
E eu, nessa condição humilde de homem, fico tentando entender o que quer que seja sobre vcs, mulheres, mas não entendo nada e me embriago e adormeço "como um cão tolerado pela gerência por se inofensivo".
Parabéns.
Daniel
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