sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Bye,bye




Vazio que ficou de um mundo de mentiras pregadas na parede do quarto cheio de livros. Ficou vazio, não é surpresa e é triste dizer, ficou vazio. Vazio de bolha de sabão e agora tenho coragem de furar a bolha e o vazio deixar de ser.
Sinto muito, preciso ir a outros parques, brincar outros brinquedos. Ouvir outras músicas, beijar outras bocas. Outros porque não eu e nem você. Isso é química que deu errado. Nossa soma nunca deu certo. Sempre teve sobra, sempre arestas irreparáveis. Agora dizem que sou menina sentada embaixo da mesa. E sou. Esperando a bronca de alguém, que talvez seja a minha mesma, por deixar o quadro pendurado na parede for so long.
Alguns copos depois e eu nem vou te contar mais nada. Serei peixe nadando em outro aquário, daqueles vermelhos bravos. Serei saia preta curta, serei pernas longas, já que as minhas não são. Serei salto alto e batom retocado a cada quinze minutos. Vou tomar tantos copos quanto eu conseguir. E você sabe que eu consigo um monte. Vou cantar em inglês bem alto, até alemão eu quero tentar falar.Só quero aprender uma palavra, aquela que me deixar mais livre, assim como sempre fui e por um tempo me esqueci. Você nunca me prendeu, minhas mãos não param quietas, a algema não alcança, meus braços chacoalham como em axé na Bahia com vontade de viver a vida dançado. Essa pecha de triste é literatura. Metáfora pra uma vontade maior que está escondida num lugar que estou quase conseguindo alcançar.
Vou usar anéis antigos e meu famoso batom roxo. Sabe que adoro perfumes. Cheiro de todo mundo no meu suor. Assim, mulher livre e com vontade de carne. Sem vergonha? Vergonha é feio. Muito feio, seu moço. Não tenho dessa não. Era inevitável, nos sabíamos disso. Mas somos infantis, eu ainda uso saia rodada e você shorts. Chego a ter uma dozinha de nos dois, mas passa quando olho a cidade daqui de cima. É tarde e a cidade dorme. Essa aqui dorme. Eu não durmo, nunca dormi. Nasci sem dormir e vou morrer acordada. Uma benção que um anjo engraçado me deu quando nasci. Vou aproveitar o tempo acordada pra criar. E criar é mais que escrever, pintar e costurar, te digo. Vou criar. E numa dessas vou encontrar a alegria passando, vestida com um roupa parecida com a minha, mas de chapéu. Tenho certeza que a alegria usa chapéu, ela tem que usar. E vamos rir juntas.Ela vai me dizer que se tivesse ficado parada no mesmo lugar ela teria me achado mais rápido. Quem mandou eu rodar tanto, não é? Essa vontade de botar o olho em todas as janelas do mundo me levou até você. Jogamos as coisas da janela. Valeu. Mas acabou. E sobre amor não se escreve, principalmente quando ele acaba. Mas se escreve sim sobre os próximos.
Vida nos plurais. Cadê todo mundo? Me perdi e agora me encontro rapidinho. Aquele velho instinto de sobrevivência. Lembra quando nos perdemos em Southampton? Um senhor negro, de barbas brancas e cara de anjo, que parecia saído de um filme, nos encontrou. Ha hahah. Quem terá sido aquele homem que nos deu um carro para que pagássemos depois? Essas coisas acontecem em vida que tem mágica. E a minha tem. Dessa cartola aqui saem outros coelhos. E você não fala minha língua. Literalmente. E eu não sei como se ri em texto assim. Só conheço o hahahaha. E agora estou cheia dos hahahahas porque vazia de você. A vida é assim mesmo. Uma lua depois da outra a as pessoas mudam e alguns sentimentos se transformam, outros acabam. O nosso acabou. Amém a nós todos.




Foto: Party_Crasher_by_bexe.jpg

13 comentários:

Niaranjan disse...

O "triste" (?!) fim de um ciclo, inicia outro... Muitas vezes achamos que encontramos a "tampa da panela", quando a realidade nos bate na cara, muitas vezes queremos fugir dela, cada um reage de uma forma, uns se escondem, outros enlouquecem por um tempo. Você pode escrever sobre o amor que passou, mas sempre vai escrever no tempo em que ocorre, também pode escrever sobre os vindouros...

THE E.D.E.

Anônimo disse...

C'est la vie! E um dia ainda você vai ser tão famosa quanto Machado de Assis, Drummond, Fernando Pessoa e tantos outros que marcaram a "nossa" literatura para sempre.
"Acho" que você não curte homenagens mas Parabéns Camilinha. Você tem talento.

Letícia disse...

Voltei.

E li o texto-conto-vivência. E tem uma coisa meio Ana Cristina aí - for so long. Essa construção é a base do seu texto. Muito bom porque me vejo em tudo. Parece até uma fotografia. Volto com outros ares. Acho q vc percebeu que alice agora fala de outro jeito. E deixei resposta pra vc lá.

E adoro aquários. Moro neles desde cedo.
Bjs, dear writer.

gab disse...

amém!

=)

Vivian disse...

...não, este amor não acabou...mudou de estágio...dorme agora nas letras doloridas que saíram de uma caneta sangrante chamada coração...não, este amor não acabou...apenas foi espargido na bruma da razão...te amoooo


muahhhhhh

Anônimo disse...

Um texto impecável! Tens o dom da palavra, amiga, e sabe usá-la como ninguém ao produzir páginas como esta, que nos toma de assalto e só nos deixa respirar ao se chegar no ponto final.

Que o 'paraíso' deixe de ser uma palavra misteriosa, amiga, e possa preencher o vazio do outro em ti no descortinar do seu mistério.

Uma orquídea lilás nas horas que estão por vir, um beijo no coração, com carinho.

Narradora disse...

Quando a gente liberta a gente, são tantos os caminhos... adorei a idéia de "vida nos plurais"... que aquário que nada menina, o mar é seu.
Beijo.

Friendlyone disse...

É bom saber quando acaba. É avanço, mesmo se há lamento ou um pouco de descontentamento. Mas em tudo se aprende e jamais se esquece o que é de gosto da vida.

VaneideDelmiro disse...

Acho que seu texto é a versão em prosa da bela canção dos mutantes: "desculpe, babe"...


"Desculpe, babe
Não vou brincar com você
Desculpe, babe
Não vou mais ser joão-ninguém
Eu vou correndo
Buscar a glória, minha glória

Desculpe, babe
Mas eu já me decidi
Desculpe, babe
Eu vou viver mais pra mim
Eu vou correndo
Buscar a glória, minha glória"


Gosto muito de vir aqui!

Jaqueline Lima disse...

Eu não durmo. nunca dormi. nasci acordada. e vou morrer assim. pois bem. isso foi a coisa mais real que já li. porque eu ta,bém não durmo. nem sequer sonho. vivo histórias. todo tempo. sem paradas. com alguns receios. mas estou me cansando. de estar sempre alerta. sempre pronta. pros outros. não pra mim. e num sei bem porque. mas também acho que a alegria usa chapéu. tem tudo pra usar.

Beijo!

Alexandre Henrique disse...

Soltem os bichos !!! Camila retornou, cadê as fichas ... oowww! Duas palavras pra este texto D-e-l-i-r-i-u-m and D-e-l-i-c-i-o-u-s. Hey escritora vivida, sentida, amargurada, feliz e límpida!!! A dona das conexões! Bye bye é um sinal verde, só não passem embaixo da janela dela shuashuhushuehuh Ah definitivamente o amor é roxo !!! hasuhue.

Agora sério. É isto é cidade. Nosso maior medo nela é de sermos consumidos. (...)
Ahahshuahu D-e-l-i-r-u-m Consumiremos ela inteirinha ahsuahusueh ! e o espaço tempo tb :)

Lindo texto adorei,

Beijos,
Alex.

Anônimo disse...

Texto magnífico! Bjus e boa semana.

http://so-pensando.blogspot.com

DBorges disse...

Sem palavras...
Parece que estou lendo confissões minhas.
É surpreendente quando nos identificamos com texto de um desconhecido.