quarta-feira, 7 de outubro de 2009




Sentei na cadeira e minha cabeça roda. Roda. Roda viva de cabeça morta. Passo forte de pernas bambas. E eu sempre escrevo pernas bambas. Devo ter labirintite. Meu espelho ta quebrado. Eu mesma quebrei, com os pés. Sempre escrevo espelhos quebrados. Devo estar mal das vistas. Vomitei a comida. E sempre vomito palavras. Fiquei com nojo do que saiu de mim. Sempre sinto nojo. Devo estar sofrendo de frescura. Desliguei o telefone para não atender. E sempre escrevo telefone desligado. Devo ser uma sociopata. Vejo pássaros e tenho raiva de não voar. Sempre escrevo raiva, devo ter sido mordida por um cachorro. Torci a mão, esfreguei os olhos, espreguicei a coluna e comecei a chorar. O choro veio como bola de sinuca bem tacada. Preta. Sempre escrevo preto. Devo ser daltônica. E chorei a vida toda. Sempre escrevo chorando a vida, devo ter vivido mal. Chorei até o amanhã, e nunca escrevo amanhã. Pensei um lago cheio de peixes e fiquei com medo de cair. Sempre sonho que estou caindo e sonho que estou escrevendo. Eu sempre sonho e sempre caio. Me debati, e isso é raro. Quis me punir, isso é sempre. Que fiz? Por que não fiz? Chegou uma carta, era aviso de uma morte. Eu joguei fora e tomei cuidado para que as lágrimas não fossem por isso.

9 comentários:

aluaeasestrelas disse...

Às vezes a gente repete tanto tantas ações e reações... Pensamentos e sentimentos que nem se dá por conta... Vira tudo automático...

Que saudade de te ler!!! Agora voltei com pique total e cada vez gostando mais dos teus textos.
Beijão!

Hugo de Oliveira disse...

Gostei muito do seu blog..é a primeira vez que passo por aqui e voltarei outras vezes.

Vou te linkar lá no meu blog.

abraços

Hugo

Mariah disse...

sempre escrevo de ontém...e também nunca me atrevo a escrever de amanhã. burice pura...o ontem a gente não muda...só resta escrever!

Germano Viana Xavier disse...

Algo em seu texto me fez recordar do livro A Queda, do Albert Camus.

Continuemos, Tebet...

Jaqueline Lima disse...

dizem que a vida é um ciclo. logo tudo se repete. gostaria de poder dizer que se inverte. mas as mesmas palavras. o mesmo conhecido. o mesmo medo. poderia só ser o outro disso. e outro daquilo. aí a gente não ia saber como termina. é isso mesmo menina. diferente. a mesma palavra. e outro significado...

beijos!

Alexandre Henrique disse...

Flor depois da chuva de primavera,vêm um sol, daqueles cristalinos, inquebrantáveis, com direito a uma esperança pura de dedos verdes. Não sei mais se os peixinhos ficam no aquário ou no mar. Mas no chão é que eles não ficam mesmo, pois não conseguem respirar.

Beijos Camilla Tebet, dama dos fios negros.

Dauri Batisti disse...

O melhor texto que li nos blogs nos últimos dias. Parabéns.

Um beijo.

psf' disse...

eu ameei seu blog, seus posts. Parabéns, te seguirei *-*

JULIANA disse...

Quando a gente sonha que cai é nosso espírito voltando do Cosmos com pressa! hora de acordar!!!! :-)