sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010



O fundo da garrafa não faz sombra, faz? Fico pensando no fundo. No fundo das coisas, no fundo do coração, no fundo do poço, no fundo da terra, no fundo do mar. E a minha vontade é de me movimentar, nem que seja para o fundo. Saber as coisas a fundo, pensar pensamentos a fundo. Olhar a pessoa no fundo dos olhos e tentar descobrir o que ela fará comigo caso lhe mostre o fundo do meu coração. Mas assim já estou querendo prever o futuro. O fundo é um lugar e pronto. Quero mais que espaço, quero o imaterial que as vezes pesa à mão. Conhece? O imaterial que toca o coração com o dedo. Imaterial com dedo. Isso mesmo. Quero o que não pode, quero fazer uma faxina na minha alma com a vassoura, rodo e pano de chão. Quero ir ao supermercado e comprar desinfetante para minha mente e limpa-la. Entende agora o material-imaterial? Quero ultrapassar a barreira do tempo e fazer a vida ser feliz. Será isso possível ou sou só uma lunática cheia de querências?
Costumava escrever coisas legais, até o dia em que comecei a me apegar ao material e ter medo do imaterial. Assim quase esquecendo que a vida é hoje. Mas são dores que doem como tapas. São murros que levo mesmo estando sozinha. E a roda gira, o carro anda, o tempo passa, chove, eu acho um cabelo branco e penso que não plantei minha árvore. Mas guardo a semente em casa para a hora certa de plantá-la.

10 comentários:

Dauri Batisti disse...

Nossa, este teu texto me lembrou a fala de uma personagem de Carson McCullers no livro A convidada do casamento. Legal, o coração humano faz semelhantes as realidades que enfrentamos.

Um beijo

:.tossan® disse...

Você é o puro ser humano com todos os contornos que que envolve a vida, pelo menos a minha. Sinto os teus textos cada vez mais serenidade. Com a admiração de sempre beijo.

Narradora disse...

Matar o medo, começar de novo, fazer a hora e parar o tempo.
Senti sua falta.
Beijo.

aluaeasestrelas disse...

E a hora certa sempre chega: para a gente plantar e colher... Lindo!!!
Que bom que voltou!
Beijos e ótimo Carnaval!!!

Jaqueline Lima disse...

Moça bonita...
quando é a hora certa das coisas?

Beijo!

Leila disse...

velha...deixe a poesia de lado e espere pelo pão com manteiga...
te adoro

Verônica Cobas disse...

Camilla,

Acho que das coisas que caracterizam um pouco do que somos além dos limites do corpo, mas não além dos limites da razão, é a vontade de buscar o fundo das coisas. Também nisso nos identificamos. O fundo mais fundo é sempre o que me interessa. Topo até eventualmente o discurso raso, mas quero o fundo, a complexidade, a intensa disposição de enxergar além.
Também falaria horas sobre isso. Quanto tempo, hem???


Beijo sempre

Vivian disse...

...Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.

Benze quebranto.
Bota feitiço
Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo.

Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo
Bem proletária
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha
tão desprezada,
tão murmurada
Fingindo ser alegre
seu triste fado.

Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

Cora Coralina

...querida linda,
trago beijos neste dia
de todas nós!

saudades...

Unknown disse...

sempre ha a hora
e ela sempre é a certa!

leila disse...

Camila...veja se ficou bom!!!
http://opusdemo.blogspot.com/